eu costumava pensar que eu devia minha vida à internet por tudo o que eu tinha e por aqueles enchanted ones que conhecia. mas ontem, papeando com
ele, descobri que as coisas vão além.
é como um saco de cabides que você puxa um e vem um monte junto.
então, se eu for parar pra pensar, não fosse aquela ex-namorada do meu irmão que tinha o cd daquela banda que um cara do sul havia lhe dado de presente e que mais tarde eu viria a me apropriar ilegalmente, talvez eu não estivesse aqui.
ou ainda aquela showbizz com o axl na capa que eu comprei na época de roqueira e que trazia dentro uma matéria sobre a banda daquele cd que eu roubei.
você com certeza já leu por aí alguém falando qual banda ou qual disco teria mudado sua vida.
mas nunca se imagina uma mudança tão fantástica. é sempre algo do tipo "aí eu percebi que o que eu ouvia era uma bosta e acabei montando uma banda."
ou "aí eu descobri que o punk tinha morrido e virei grunge."
sei lá.
mas o curioso é como uma banda pode mesmo mudar sua vida, e o pior é que eles nunca saberão disso. ou talvez, depois desse post, sei lá.
eu estaria em brasília ainda, provavelmente fazendo artes cênicas. ou entediada na publicidade.
e aí entra um outro capítulo, que por acaso é o motivo principal desse post: por que eu desisti dessa vida teatreira, que era meu plano de vida até os 15, 16 anos.
meus pais são formados em artes cênicas. minha mãe anunciou a gravidez para a melhor amiga durante uma cena. meu pai sempre brinca que "teatro se faz com viado e fita crepe", e sempre foi assim lá em casa.
cresci ajudando minha mãe com os textos, dando pitaco na direção e vendo o corre-corre nas coxias.
aquilo me crescia os olhos, o cheiro de mofo dos teatros me extasia até hoje, choro quando vejo uma boa atuação e estalo os dedos quando a cena é bonita.
adoro estar ali naquele meio. adoro pisar num palco. adoro sentir medo de cair no fosso. adoro até mesmo em teoria, desde lá da grécia.
mas daí eu desisti.
eu vi a vida que minha mãe teve e a que ela me deu e decidi que queria outra dali em diante. (foi um trauma, meus pais choraram dias e noites até entenderem que eu tinha razão.)
não reclamo de nada, nunca nos faltou nada, mas é uma parada difícil.
quem consegue se estabelecer como atriz ou diretor, principalmente numa cidadela sem nenhum incentivo cultural decente como brasília, tem mais é que ajoelhar e agradecer a deus.
desisti porque não gostava das pessoas. um pessoalzinho assim muito natureba, curte tomar um banho de cachú e fazer teatro de rua.
sai pra lá, eu gosto de palco com linóleo, hotel 5 estrelas e uma bela picanha no almoço. e, a não ser que eu quisesse me aventurar nos tablados da vida, jamais teria amigos.
desisti porque a perspectiva de ficar em brasília e de sentar nas cadeiras quebradas da unb não me agradavam nem um pouco.
desisti porque eu não consigo me comprometer com algo que me desagrada. aí eu pego um texto de merda, um elenco de merda, um público de merda e tenho que levar aquilo até o final. tava fodida, jamais daria certo.
e desisti porque eu gosto é de teatro. e pra se dar bem nisso, ou leva um milhão de anos ou você se rende à malhação e aí... leia de novo a questão do compromisso com algo que não me agrada.
daí optei por sair de brasília e fazer moda, que é minha outra paixão.
e no futuro posso interligá-las num figurinismo, que tal?